
Percorra a casa de chão amarelo amarelão
Destranque as portas de tramela e veja pela janela que...
Há sementes sendo plantadas na terra ao lado
Vá até o fogão à lenha no quintal e dê a ele vento ao fogo
Sente-se e veja a habilidade daquela senhora
Que faz a aurora do branco do barro de argila
É magnífico vê-la feliz, fazendo o que hoje tu lembras a mim
Acorda o dia, tem café com farinha e água de cacimba
“Ande Dito, dê logo milho aos pintos enquanto trato do resto da criação”
“Tenha calma Júlia, tô trocando a água suja, e tu não espante o leitão”
E no alto do abacateiro, assiste a criança toda essa alegria no terreiro
Dança suave fim do dia, abrace em seus poleiros uma a uma as galinhas
O fogo ainda está aceso e vem aí um viradinho, um refogado, doce de leite...
Traga dos tempos de lá o cheiro que luto em não esquecer
Daquele pó torrado, daquele milho ralado, daquele pilão tão antigo...
Sempre irá existir aquela casinha onde cercas de bambus eram vizinhas
Onde ecoa o som de muitas rolinhas e borboletas ainda beijam folhas de caetê
Haverá flores na jabuticabeira e muito em breve a amoreira dará seu fruto sem se cansar
E num quarto bem quentinho lembrarei que dormem um sono divino os donos desse lar
Volte em suas asas saudosa lembrança dos tempos de lá
Traga-me as memórias da casa de chão amarelo amarelão
Feche as portas de tramela e não saia pela janela, “poderás virar ladrão”
Mas antes, colha os frutos da semente plantada naquela terra arada, naquele vasto chão...
Lucas Nunes