Viva suas lembranças e se alegre na saudade
Eu, jovem aprendiz, desenho seu cenário
Faço-me ouvidos e viajo contigo por estas lembranças
Tua pele traz a marca do passado
As mãos carregam no tempo o trabalho
Mas em teus olhos ainda encontro a essência de menina
Que cultiva o segredo, a sabedoria, a vida...
Conte-me tudo, não guarde segredos
Me leve para a vida que já não vejo por aqui
"Fêchos de lenha, água de bica ao balde"
"Fogão à lenha, cheiro de fogo, café e saudade"
Esqueça-te deste presente incerto, assegure-se naquele tempo
Onde todos ainda vivem, alegres e sorridentes
Não te preocupes se não te entendem
Apenas me diga o que tens a contar
Logo não haverá mais quem conte
Se eu não ouvir, não poderei um dia relembrar
Contarei se me permitir, que houve um tempo
Onde pessoas andavam descalças e podiam entrar e sair
Deixem que ela conte, que descia e subia monte
Que trabalhava sem ganhar, por puro gosto
E que hoje, todo este esforço
Só seja em se lembrar
Não pare, a vida aqui já nem tem mais graça
É tudo e tanto ao mesmo tempo
Que da minha mesmo, eu nada mais me lembro
Sou realidade posta em seu passado tempo
Trago lembranças do que ouvi
Da enchada, que era a amiga
Do expediente, que se chamava 'lida'
Onde todos eram 'camaradas'
Tua face tão cansada, esconde toda uma jornada
Revelas toda uma vida vivida
E te faz hoje, Senhora do bordado
De agulha, pano e linho
Saudade... sentimento certo de que vivemos
E que vivendo, amei em existir
Lembrança... afago doce do que tivemos
Certeza de vida, ao ser lembrada
Um dia contarão a tua história
Senhora dos olhos azuis, azuis de seus
Mesmo que só nestes versos... ao que ler
O saber, que o que ouvi, hoje conto, puro e sincero
Agora conte-me tudo, mesmo que seja sempre a mesma coisa
Minha memória não é tão boa quanto a sua
Será necessário mais de uma vez pra eu gravar
Me conte, pois em tuas lembranças preciso viver
Conte-me a tua história Senhora, sem medo de errar
Viva as suas lembranças e se alegre na saudade
Eu, jovem aprendiz, desenho seu cenário
Pois quando houver silêncio... (...) Eu saberei contar!
Lucas Nunes
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